sábado, 3 de dezembro de 2011

Rixa de intelectuais


Poema: Rixa de intelectuais
Autor: Clécio Rimas
(Adaptação do causo de mesmo nome presente no livro “Histórias verídicas de um mentiroso” de Horácio de Almeida)

Na história da humanidade
Em desfruto da ciência
Sempre existiram disputas
No campo da inteligência.
Grandes intelectuais
Já desmentiram outros tais
Com teses, dissertações...
E mesmo através dos anos
Temas tidos “soberanos”
Sofreram contestações...

E Isso foi em todo canto:
Na Grécia, na Roma antiga...
Na Idade Média ou Moderna
Vez por outra surge a briga
De um cientista afamado
Com seu diploma de lado
Defendendo o seu estudo...
E de outro lado, também
Aparece um outro alguém
Pra contestar quase tudo.

Já vi isso em Bananeiras
No Brejo paraibano.
Um município pomposo
Que no seu cotidiano
De cidade de vanguarda
Um velho causo se guarda
Entre dois competidores
Ambos muito inteligentes
E que em debates frequentes
Foram propensos “doutores”.

O primeiro era Carlinhos
De sobrenome “Moreira”
Um grande intelectual
Da terra da bananeira
O segundo (e concorrente)
Deveras inteligente,
E expert afamado
Era Roberto Ribeiro,
Mas, conhecido primeiro
Pelo vulgo “Pau Pelado”.

(e eles discutiam tudo)

Da ação hipocondríaca
Posta pela humanidade
Aos efeitos doentios
Da hiperatividade...
Da crudelíssima ação
Que culmina na extinção
Sequencial ou randômica...
Do complexo do busílis
A importância de bílis
Dentro da ressaca vômica.

E eu sempre participava,
Mesmo que discretamente,
Dessas contendas de ideias
Ouvindo-os atentamente.
Varávamos madrugadas...
Eram discussões voltadas
Pra toda e qualquer matéria;
Foi justo nesse lugar
Que começou a pulsar
Cultura na minha artéria...

Pois bem! Esse dois rapazes
Que acima foram citados
Se transformaram inimigos,
Oponentes declarados.
Quando as comuns discussões
Divergiam opiniões
Cada qual sendo “o mais culto”
Abandonavam o recato
Partiam as vias de fato
Causando grande tumulto.

Quando ambos se encontravam
Abusavam da retórica,
Falavam na norma culta,
Apuravam a metafórica:
“És profuso em inferências
E até mesmo tens ciências,
Mas estúrdio, quando exórdio...
Pois nunca terás vantagem
Já que a sua defasagem
Te torna um ser monocórdio”.

Exclamou isso Moreira
Que obteve prontamente
Revide do Pau Pelado
“Me sinto atinentemente
Na antítese do que dizes
Pois tal qual os aprendizes
Imberbe... irrefutável,
Ignóbil, falastrão...
Teu nome não tem menção
Mero inaproveitável”.

Um dia estava Moreira
Pregando com sua lógica
A hipérbole presente
Na matéria fisiológica.
Diante nossos olhares
Ele apontava pros ares
Com as mãos gesticulando...
Mas fez pausa de repente
Quando viu na sua frente
O seu oposto chegando.

Em semblante descortês
E andar cadenciado,
Com sorrisinho boçal
Se aproximou Pau Pelado...
Nessa hora decisiva
Criou-se a expectativa
Da refrega cultural
E a gente ali, fuxicando
Ficamos observando
Os gestos de cada qual.

Moreira ao ver Roberto
Fechou logo sua cara
Na demonstração visível
Que algo o atormentara.
Já Roberto, em bizarrismo
E também no modernismo
Nato do intelectual
Açoitou seu cabelão
Como que em provocação
Direta pro seu rival.

Mas para o espanto de todos
Roberto, se dirigiu
Com cortesia a Moreira
Para o qual foi e pediu
Pelo seu pente emprestado,
Pois o cabelo assanhado
Necessitava ajustar.
Mas não pediu normalmente
O fez atrevidamente
Só pra desmoralizar.

“Tu terias por ventura
O precioso utensílio
Que a indústria transformou
Num bem para nosso auxílio,
Que usado com excelência
Ajusta nossa excrescência,
O qual displicentemente,
Vocês incautos e incultos,
Pobres biltres e estultos
Os denominam de pente?”

Moreira empalideceu!
Foi ficando enfurecido
Suas mãos se acocharam
Diante o ato atrevido.
Tentou não ficar nervoso...
E de um modo bem airoso
Parou e respirou fundo,
Cofiou a barba rala,
E depois soltou sua fala
Contendo o modo iracundo:

“Eu sinto em decepcioná-lo
Pela frustrante omissão
Pois ao sair do aposento
Da minha predileção
Dar-me-ia pela conta
Pela qual me desaponta
Não constar na minha alçada
Para lhe afirmar, mormente
Que eu não possuo um pente
Filho da puta safada!”

Mais uma vez os “doutores”
Acanalharam o debate.
Deixaram a verve de lado
Em troca de outro combate,
E aqueles dois geniais
Nos fizeram rir demais
Com aquela cena engraçada...
Todo saber concentrado
Num instante foi trocado
Por murro, coice e dentada!