sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Giuseppe Ghiaroni


A ESTUDANTE, A CASADA E A PERDIDA

Num tempo que vai longe em minha vida
E que eu lembro muito bem mesmo distante
Três amores eu tive: uma estudante
Uma mulher casada e uma perdida

A estudante eu amava afoitamente
Antes da escola mal o sol nascido
A casada na ausência do marido
E a perdida depois do expediente

Era no tempo das imagens belas
Escrevi um poema certa vez
Um poema inspirado em uma delas
Mas fiz três cópias para dar as três

E as três choraram de emoção profusa
Cada qual se sentindo retratada
Cada qual chorou lágrimas de musa
A estudante, a perdida e a casada

Assim algo encontrei de semelhante
Nos diversos amores desta vida
Que a casada tem algo da estudante
E que as duas têm muito da perdida.

(Giuseppe Ghiaroni)
Pérolas do Improviso

Certa vez os três irmãos, Dedé, Gonga e Paulo Monteiro, estavam limpando mato no roçado de um tio deles e, como o terreno era muito pedregoso, vez por outra as inchadas batiam numa pedra fazendo aquele barulho agudo que dava pra escutar de longe, dai Gonga improvisou:

Quando é tempo de inverno
Canta alegre a passarada
Quem passa na estrada escuta
Da beirada da estrada
A música que as pedras tocam
No violão da inchada

Quando terminou de dizer esse verso, Dedé vinha ao seu lado, cada qual limpando uma carreira, nisso tinha um pé de mato que estava mesmo no meio de duas carreiras. O pezinho estava na mesma distância pra os dois, foi quando, por acaso, uma inchada chocou-se com a outra fazendo um tinido, ai foi a vez de Dedé:

Mas quando a luta é pesada
Na hora do sol mais quente
Um não quer ficar atrás
Outro quer passar na frente
Uma inchada bate noutra
E a cantiga é diferente

Coisas de Poeta...
O Soneto e o Poeta

Com vocês, Dedé Monteiro:



SONETO DA REVOLTA

Que culpa tenho de ser diferente
Amar as artes porventura é crime?
Tudo é mutável e o irreverente
Não se acostuma com qualquer regime

Contra a vontade rude e indiferente
Eu sou amante do sagrado time
Que empresta a alma sofre, cria e sente
E sente nojo do poder que oprime

Aprendam isto: gente não se doma!
Pichem meu nome rasguem meu diploma
Aceito tudo com tranquilidade

Se acharem pouco, cubram-me de lodo,
Cortem meu riso, me excomunguem todo!
Só não me toquem na dignidade.

(Dedé Monteiro)



MAIS UM TRONO DE REI NO PARAÍSO

“Lourival, zig-zag do repente”,
Disse alguém, certa vez com muito brilho
E ao dizer, fez justiça, realmente,
À grandeza sem par deste “andarilho”!

Não é só da família a dor presente
Nem é só São José que perde um filho
O Nordeste, enlutado como a gente,
Chora a perda do “Rei do Trocadilho”,

Neste instante, talvez a dor mais plena
Seja aquela que n’alma de Helena
Companheira no pranto e no sorriso!

Mas no céu há poetas festejando
Com “José Carpinteiro”, fabricando
MAIS UM TRONO DE REI NO PARAÍSO

(Dedé Monteiro)




VOLTEI DE NOVO

Voltei de novo, São José da arte,
Pra, num abraço em tua gente amiga,
Humildemente reverenciar-te
E carimbar nossa amizade antiga!

Voltei de novo, que a saudade obriga,
E eu não podia, enquanto o tempo parte,
Lançar um livro e não apresentar-te.
Seria ofensa das que Deus castiga.

Voltei de novo pra estreitar os laços
Com “Patriotas”, com “Marinho” e “Passos”,
Gente que passa e se transforma em mito!

Voltei de novo, terra de Vinícius,
Pra te dizer, sem precisar comícios:
Eu te admiro, São José do Egito!

(Dedé Monteiro)