quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Soneto e o Poeta

Com vocês, Bio de Crisanto, o poeta da janela (ou "o poeta filósofo"):


(Por Geraldo Palmeira, sobrinho do poeta Bio)

Severino Cordeiro de Sousa (Bio de Crisanto), nasceu aos 09 de maio de 1929, no povoado São Vicente, na época município de São José do Egito. Filho de Crisântemo Olegário de Sousa e Blandina Maciel de Sousa, nos seus primeiros anos de vida foi residir em Sumé – PB, retornando à Capital da Poesia já adolescente. Aos oito anos de idade, escreveu sua primeira poesia, “Vida na Roça”. A partir daí a arte do versejar tomou conta da sua vida e, junto ao irmão Macilon Olegário de Sousa, foi cantador de viola durante três anos.

Na década de 50, logo após o falecimento de seu genitor, Bio de Crisanto mudou-se para Jacobina – BA, onde exerceu outras atividades profissionais. Naquela cidade, em novembro de 1959, por excesso de trabalho, sofreu um esgotamento físico e foi hospitalizado. Uma enfermeira sem conhecimentos anatômicos aplicou-lhe uma injeção no glúteo onde a agulha atingiu a cartilagem do tendão de locomoção. A partir dessa data o poeta não andaria mais.

No início da década de 60, Bio retorna a São José do Egito e começa sua luta para adequar-se a doença que o acometeu. Depois de morar alguns anos com a família, decide residir sozinho.

Grandes companheiros de suas horas de solidão foram amigos, familiares e os livros. Foi principalmente na dedicação à leitura que Bio de Crisanto superou suas mágoas e, na poesia, expôs toda sua sentimentalidade, valorização ao regionalismo e teorias sobre a vida. A arte do pensar foi a grande responsável pelo título que recebeu: “Poeta Filósofo”.

Na década de 60, em períodos tensos de nossa história, Bio escreveu “Fase Semi-Feudal”, poema consagrado que lhe rendeu elogios além fronteiras pernambucanas. Por se tratar de versos hostis ao regime militar, nenhuma das suas 14 estrofes foi publicada no seu livro.

Em 1975, o sonho de publicar um livro é realizado. Prefaciado pelo grande amigo e poeta Aleixo Leite Filho, Bio de Crisanto lança “Meu Trigal”, um composto de prosa e versos. Na obra, o poeta conduz o leitor aos seus pensamentos filosóficos e envereda na poesia, dando ênfase ao estilo soneto.

Nas horas de conversa, quase sempre debruçado na janela de sua residência, localizada na Rua do Poeta, denominação escolhida em sua homenagem, Bio atendia inúmeros estudantes em busca de conhecimentos, levantava importantes assuntos ao lado de amigos e sempre que outro poeta o visitava, a glosa tomava conta do ambiente.

Na década de 90 foi fundador do Clube de Cultura Literária, entidade que por mais de dez anos foi instrumento forte na promoção cultural da Região. Ainda nessa época, participou de diversos concursos de poesia, obtendo os primeiros lugares.

Membro da União Brasileira de Escritores, teve alguns de seus poemas publicados em jornais e nos livros “São José do Egito – Musa do Pajeú” e “São José do Egito – Solo Sagrando, Mentes Iluminadas”.

Bio de Crisanto faleceu com 71 anos, aos 22 de agosto de 2000. Seus poemas inéditos estão sendo catalogados e serão inseridos na publicação de seu segundo livro “Meu Madrigal”, título escolhido pelo poeta antes de sua morte. O novo livro trará, também, todo o conteúdo da primeira publicação.

Abaixo você pode contemplar os versos deste grande poeta:

DÚVIDA

Nasci! De onde vim é que não sei,
Enfim também não sei para que vim,
Se vim para voltar para que fiquei
Neste intervalo de incerteza assim?

Não foi do pó fecundo que brotei,
Não sei quem tal missão me impôs.
O acaso não foi, já estudei...
Desta incumbência desconheço o fim.

Sou a metamorfose das moneras
Desagregadas nas primeiras eras,
Reunidas hoje nesta luta infinda.

Sou a passagem irreal da forma
Submetida aos desígnios da norma,
Do meu princípio não sei nada ainda.

(Bio de Crisanto)


NO SERTÃO ANTIGO

Um moleque no corte assobiando,
Um cavalo pastando na ladeira,
Uma briga de bois na bagaceira,
E um boeiro malfeito "cachimbando".

Um novilho pé-duro ruminando
Na sombra do oitão da bolandeira,
Um telhado coberto de poeira,
E um rebanho de ovelhas descansando.

Dois bois mansos criolos atrelados,
Parecidos em tudo, emparelhados,
Vão puxando a almanjarra sem preguiça.

Enquanto várias campesinas belas
Aparecem cantando nas janelas
Duma casa de alpendre à tacaniça.

(Bio de Crisanto)


NA BORBOREMA


O Sol desponta ruivo cor de gema,
Iluminando o pico magestoso,
Do gigantesco dorso sinuoso
Da tão acidentada Borborema.

No sopé da montanha geme a ema,
E embaixo o terreno podregoso,
Ouve-se o canto ingênuo e harmonioso
Da inocente pernalta, a seriema.

Chove,troveja, e o vento forte agita,
A flora se sacode, a fauna grita,
Um raio irado desce e a penha abre.

Agora é tarde, o Sol rubro descamba,
E rodopiando como roda bamba
Apaga a luz detrás da Serra-Jabre.

(Bio de Crisanto)
Balaio Cultural de Novembro

Confira a programação do próximo Balaio Cultural de Tuparetama:

(Clique na imagem para ampliar)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

II Grande Festival de Poetas Repentistas de Tabira

Zecarlos do Pajeú convida todos poetas e admiradores da cantoria para mais uma edição do Grande Festival de Poetas Repentistas de Tabira que acontecerá no dia 19 de novembro de 2011, no Skina Club em Tabira, a partir das 20:30.
A primeira edição do festival homenageou a escritora Nevinha Pires, e este ano o homenageado da vez será nosso querido poeta Dedé Monteiro:

As duplas participantes e os poetas declamadores e convidados você pode conferir no cartaz:

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Muita emoção no lançamento do 1° livro de Dudu Morais "NAS RÉDEAS DA POESIA"

Confira as fotos do lançamento do livro "Nas Rédias da Poesia", do poeta Dudu Morais, que aconteceu domingo passado (23/10) no Skina Club em Tabira. Foi uma festa muito bonita com muita poesia, emoção e forró de tradicional. As fotos são de Claúdio Gomes:


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Retratos do Sertão em Arcoverde

Nesta sexta-feira, 21 de Outubro, Arcoverde recebe dois grandes espetáculos com recital, declamações, performances, encontro de poetas de várias regiões e estilos, causos e lançamentos de livros.


Baseado numa proposta de difusão da arte dos poetas nordestinos, de pouca ou nenhuma projeção literária, que o poeta, declamador, apologista, produtor cultural e escritor Marcos Passos idealizou sua ANTOLOGIA POÉTICA RETRATOS DO SERTÃO, que reúne oitenta e nove poetas, entre eles Chico Pedrosa, Dedé Monteiro, Jessier Quirino, Maciel Melo e a dupla de repentistas João Paraibano e Sebastião Dias, todos retratando o sertão alegre com seus costumes e sua natureza exuberante. A segunda parte do livro traz uma homenagem a quinze saudosos poetas, entre os quais Antonio Marinho, Pinto do Monteiro, Rogaciano leite, Lourival Batista, Manoel Filó, Jó Patriota.

Marcos é co-autor e organizador dos livros NOS PASSOS DA POESIA - de autoria de sua mãe, a poetisa Beatriz Passos, e da coletânea de galopes a beira-mar, com a presença de 60 poetas, intituladaAMORES PERFEITOS NA BEIRA DO MAR. Está preparando uma homenagem em prosa e verso a um dos maiores compositores nordestinos, Zé Marcolino. O livro trará o título CONVERSAS SEM PROTOCOLO.
Para a apresentação e o lançamento do livro o poeta marcos Passos contará com a participação luxuosa de poetas dos mais variados matizes, a exemplo de:

Gabrielle Vitoria de Lira (Luna Vitrolira), Recife, vencedora da 6ª Recitata - concurso de poesia do Festival Recifense de Literatura A Letra e A Voz, Free porto, Bienal do Livro 2009. Trabalha nas áreas de poesia, declamação performática, composição musical e atuação cênica.

Kerlle Magalhães Lima, Kerlle de Magalhães, Arcoverde-PE. Membro da União dos cordelistas de Pernambuco, fez seus primeiros cordéis aos vinte e um anos de idade, destacando-se: Em busca da chuva; O coice do preá; Lampião, arretado de escapulir torrão, entre outros

Poeta popular(declamador e glosador),Clécio Ferreira de Lima,Serra Talhada-PE. Mudou-se para Tabira aos 4 anos de idade, sendo praticamente criado nesta cidade. É músico percussionista, tendo preferência e domínio pelo pandeiro. Participou das 13º e da 15ª Mesa de Glosas do Sertão do Pajeú-Tabira-PE/ 2009 e 2011, Coletânea “Cem poetas sem livros” (Litera PE) /Recife-PE/2009 e no livro “1ª Antologia de Tabira – Prosa e Poesia”. Tabira-PE/2008.
A apresentação do evento ficará por conta do Profº Edison.
(Fonte: Blog No pé da parede)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Lançamento: Nas Rédias da Poesia

Será no dia 23 deste mês (outubro), no Skina Club, a partir das 20 hrs, o tão esperado lançamento do livro do poeta Dudu Morais. O "Nas Rédias da Poesia" será a primeira obra desde grande poeta que vem surpreendendo todos com a facilidade com que faz poesia (e que poesia viu!).
Está na programação o cantor Fábio Luiz, o trio As Severinas, o grupo Pé de Parede (do qual Dudu faz parte), os poetas da APPTA e da AJUPTA e convidados.



Uma amostra dos versos do poeta:

No momento em que tudo silencia
Minha alma também fica calada
E assim, quase toda madrugada
a razão do meu ser se distancia

Muitas vezes fazendo poesia
Nossa história de amor é externada
E entre amante, mulher e namorada
Classifico você como o meu dia

O meu dia por que trás essa luz
Que ilumina minha vida e que seduz
Com a força que tem quando irradia

E uma noite de amor me faz depois
Delirar com os gemidos de nós dois
NO MOMENTO EM QUE TUDO SILENCIA.

(Dudu Morais)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Belas Tardes de Viola

Venha conferir mais um grande evento da nossa cultura, uma tarde de muita cantoria e declamações:

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Uma Cara de Poesia & Uma Coroa de Sonetos

Lima Júnior é quem lhe convida:

Pontos de Vista, Giuseppe Ghiaroni



PONTOS DE VISTA


Na minha infância,quando eu me excedia
quando eu fazia alguma coisa errada
se alguém ralhava minha mãe dizia
... -Ele é criança, não entende nada!

Por dentro eu ria satisfeito e mudo.
Eu era um homem, entendia tudo.

Hoje que escrevo hitórias e poemas
e pareço ter tido algum estudo
dizem quando me vêem com os meus problemas:
-Ele é um homem,ele entende tudo!

Por dentro, alma confusa e atarantada
eu sou criança, não entendo nada. ...

(Giuseppe Ghiaroni)
O Cego, o Guia e Gonga Monteiro
 













Gonga Monteiro, grande poeta Tabirense, irmão de Dedé Monteiro, certa vez escreveu a história da esperteza de um guia e a inocência de um cego. Com seu humor ímpar, o poeta nos envolve com seus causos, que contam sempre com um final surpreendente, duvida? É só ler abaixo:

O CEGO E O GUIA


Um compadre meu um dia
Contou-me um caso engraçado
Dum ceguinho que pedia
Na calçada do mercado.
Passava o dia pedindo,
O povo entrando e saindo,
Quand’um não dava outro dava.
E ele, nos louvores seus,
Dizia: “graças a Deus!”
Quando uma esmola ganhava.

Mais ou menos meio dia,
O sol quente feito brasa,
As esmolas recolhia
Pra levar tudo pra casa.
Dava um assovio fino,
Aí chegava um menino
Que eu não sei donde saía
E, alguns minutos depois,
Dividia o saco em dois,
Um pra ele, outro pro guia.

Nos sacos tinha de tudo:
Milho, farinha, feijão,
Doce pequeno e graúdo,
Biscoito, bolacha e pão,
Manga, laranja, banana,
Uma garrafa de cana,
Não que o povo tenha dado;
É que o cego cachaceiro,
Depois que conta o dinheiro
Compra a cana no mercado.

Mas deixe a cana de lado,
Nenhum crime nisso eu vejo.
Na saída do Mercado
Ganharam um taco de queijo.
E o guia falou: “Ceguinho,
Quando chegar no caminho
Esse queijo a gente come?”
E o cego, de voz maneira:
“Na sombra da ingazeira
Vamos matar nossa fome.”

O guia era uma beleza:
Desenrolado e ladrão.
Se o patrão desse moleza
Ele roubava o patrão…
E como o patrão não via,
Foi então aí que o guia
Deu uma de espertinho,
Enganando o pobre cego,
Tirando o bucho do prego,
Comendo o queijo sozinho.

Chegando no pé de ingá,
Botaram os sacos no chão
E o ceguinho disse: “Vá,
Desamarre o matulão…
Tire esse queijo pra fora
Que eu acho que está na hora
De alimentar a matéria:
Você se fortificar
E eu também quero tirar
A barriga da miséria.”

O condenado do guia,
Se fazendo de inocente,
Virava o saco e dizia
Ao patrão deficiente:
“Pode ter acontecido
Desse queijo ter caído…”
E o cego, contrariado,
Ao sujeito respondia:
“Como é que o queijo caía
Se o saco estava amarrado?

Deixe de senvergonheza!
Conte o que aconteceu,
Que eu tenho quase certeza
Que foi você quem comeu!
Eu tava desconfiado
Que você vinha calado
Desde o centro da cidade…
Cabra da vergonha pouca,
Deixe eu cheirar sua boca
Que a gente sabe a verdade…

Aí o pobre do guia
Ficou sem jeito e sem clima,
Sem saber o que faria.
Pra dar a volta por cima…
Tirou a roupa ligeiro,
Colocou o “fevereiro”
Assim de boca pro ar
E cochichou em voz rouca:
“Tá aqui a minha boca,
Se quiser pode cheirar…”

O cego botou a venta
No fê-o-fó do rapaz,
Disse: “Eita coisa nojenta!
Tu tás fedendo demais!”
Depois disse assim: “Menino,
Eu a ninguém recrimino,
Cada um faz o que gosta.
Você não comeu meu queijo,
Mas pelo jeito que eu “vejo”,
Meu “fi” tá comendo é bosta!…”

(Gonga Monteiro)
Balaio Cultural de Tuparetama

Acontecerá hoje (dia 07/10) mais uma edição do Balaio Cultural de Tuparetama. Será uma festa com apresentações culturais diversificadas. Confira a programação no cartaz:

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pra Quem "Tá na Capitá"

É hoje!, se eu tivesse lá eu ia...

Noite dos Campeões da Viola

Terça-feira, dia 11/10, João Paraibano promoverá uma noite de muita poesia, a partir das 20 hrs, em Afogados da Ingazeira no MG Bar. Será imperdível.