O Soneto e o Poeta
Com vocês, Vinícius Gregório:
EU E O GALO DE CAMPINA
Triste sina a de um galo de campina
Que era alegre bem antes da prisão
Mas foi pego nas grades de um alçapão
E hoje chora num canto a triste sina
Eu também tive a sina repentina
É que um dia fui livre e hoje não
Na tristesa esse galo é meu irmão
Minha sina é da dele cópia fina
Hoje a casa do galo é a gaiola
Notas tristes no canto é que ele sola
A saudade do galo a vastidão
O meu canto é um canto de lamento
A gaiola é o meu apartamento
E a saudade que sinto é do sertão.
(Vinícius Gregorio)
INCOMPREENSÃO
Não bastasse viver sempre trancado,
Dói no peito o que fez o meu vizinho:
Confinou um pequeno passarinho
Pra viver feito ele, engaiolado...
Num cubículo escondido e abafado
Vive o homem, que acorda bem cedinho
Pra cuidar do seu prisioneirozinho
Que está preso, mas não fez nada errado.
Vive o homem jurando que ele canta,
Mas só ouço sair pela garganta
Gritos secos de dor e de saudade...
Ele jura que o canto é de contente,
Mas só ele não vê que é, claramente,
Um protesto por sua liberdade.
(Vinícius Gregorio)
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